PELA GRAÇA DE DEUS, SOU O QUE SOU

Por: Rev. Paulo Sergio da Silva

Quem somos nós? Essa é uma pergunta interessante do ponto de vista filosófico, científico e espiritual. Sabemos quem somos como pessoas, a partir da nossa história, nossa família, o nosso “modus vivendi”, ou seja, o modo como vivemos no mundo. Sabemos quem somos como seres viventes, possuímos um corpo do qual cuidamos, nos relacionamos com outras pessoas, temos necessidades básicas como água, ar e alimentação. Ainda como seres, sabemos de nossa fragilidade e sabemos que um dia morreremos. Mas apesar de sabermos tudo isso acerca de nós mesmos, como um eco ressoa a pergunta: QUEM SOMOS NÓS? Para satisfazer essa pergunta de um modo pleno precisamos recorrer a alguém que está em um nível infinitamente superior a nós, Deus nos diz quem somos
em sua Palavra: somos seus filhos, criados à sua imagem e semelhança, salvos por sua graça, através do sangue de Jesus, o Filho unigênito de Deus. Por isso, quando formos responder à pergunta (quem somos nós?) devemos acima de tudo, nos lembrar quem somos do ponto de vista da graça de Deus e não de nós mesmos, porque se pensarmos em nós mesmos sem a graça de Deus, nos veremos perdidos, sem esperança de salvação, de transformação ou de mudança. Em última análise, cada um saberá quem é verdadeiramente, somente olhando do ponto de vista de Deus, partindo da ótica bíblica. É só aí que qualquer pessoa pode se auto-avaliar e saber quem é de modo seguro.


"Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo." 1 Coríntios 15:9,10.


EXPLICAÇÃO
O Evangelho foi pregado pela primeira vez em Corinto por Paulo, em sua segunda viagem missionária (50 AD). Enquanto morava e trabalhava com Áquila e Priscila, ele pregou na sinagoga até que a oposição dos judeus o forçou a mudar-se para a casa de Tício Justo. Os judeus o acusaram perante o governador romano, Gálio, mas as acusações foram rejeitadas, e Paulo permaneceu 18 meses na cidade (At 18:1-17; 1 Co 2:3). Quando Paulo escreveu essa carta, a igreja de Corinto passava por alguns problemas: divisões na igreja (1 Co 1:11), imoralidade (1 Co 5; 6:9-20), além da confusão acerca dos dons, dúvidas quanto ao casamento, alimentos, adoração e ressurreição. Crenças e práticas de espantosa variedade caracterizavam a igreja em Corinto. (ABA). Alguma similaridade com a igreja hodierna?


ARGUMENTAÇÃO / DIVISÕES
O apóstolo Paulo, nesse momento fala acerca de si próprio e da obra redentora de Cristo em sua vida. Desprovido de orgulho ele fala com clareza sobre quem era ele, e como a graça de Deus havia sido importante para transformá-lo.

A palavra “graça” aparece por diversas vezes na Bíblia. Essa palavra tem diversos significados: favor, mercê, benevolência, perdão, indulgência, indulto, privilégio. Dom sobrenatural, socorro espiritual concedido por Deus para conduzir as criaturas à salvação, para a execução do bem e para a santificação. (Michaelis).

Aqui aprendemos pelo menos três lições acerca da graça de Deus, e do modo como ela opera em nós as transformações de vida e caráter.


1 – A GRAÇA É CONCEDIDA POR DEUS, NÃO OBTIDA POR NÓS (vs. 10A)
A primeira coisa que se destaca no texto sagrado é o depoimento do apóstolo de que a graça de Deus lhe fora concedida. É assim que o texto de Efésios 2:8,9 nos apresenta a salvação pela graça, sem mérito nenhum de nosso.
“Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus, não de obras, para que ninguém se glorie.”

De nossa parte, assim que tomamos conhecimento dessas verdades, nos esforçamos para viver de acordo com essa graça, dentro deste plano da ação de Deus. Porém nada do que fizermos produzirá a graça de Deus, não temos condições de barganhar nada com Deus. Pelo fato de sermos pecadores, não temos condições de fazer algo para alcançar, obter ou gerar a graça de Deus, isso faria de nós merecedores da graça, o que não somos e jamais seremos. Antes, é o agir da graça de Deus que produz em nós boas obras que glorificam a Deus. Essa é a essência da graça de Deus, ela é um presente, uma dádiva, uma benevolência especial de Deus.

Isso não significa de modo algum que não adianta nada o nosso esforço e a nossa dedicação, para o nosso crescimento, adianta sim! Mas jamais devemos pensar que foi o nosso esforço, a nossa piedade, a nossa fé, que trouxe para nós a graça e as bênçãos de Deus. Precisamos compreender que tudo que fazemos traz para nós grande honra e edificação, desde que o façamos única e exclusivamente para a glória de Deus. O nosso agir não produz a graça de Deus, pelo contrário, é a graça de Deus que produz em nós o agir e nos capacita para isso. Desse modo estaremos pecando se não fizermos aquilo que a Sua graça nos capacita a fazer.


2 – A GRAÇA DE DEUS NOS TRANSFORMA, NÃO É VÃ (9,10)
Paulo relembra no vs. 9 que anteriormente ele havia sido um perseguidor da igreja de Deus, um homem mau e cruel que em nome da fé judaica perseguia a Igreja de Cristo. Ele era cego e não sabia que perseguia ao próprio Senhor quando perseguia a Igreja, pois a Igreja é o corpo de Cristo. Mas a graça de Deus fora concedida a ele e havia transformado Paulo de perseguidor a perseguido. Por isso ele diz: “pela graça de Deus, sou o que sou”. Não há arrogância nessas palavras do apóstolo, pelo contrário, ele está dizendo que somente a graça de Deus poderia transformá-lo de um modo tão dramático.

Ele próprio afirma sua indignidade em ser um apóstolo, mas a graça de Deus transforma pecadores indignos em servos abençoados de Deus. Nenhum de nós é digno da graça de servir a Cristo, mas Ele em sua majestade nos tem abraçado e transformado e novas criaturas. Paulo foi transformado de perseguidor a perseguido. De destruidor a edificador da igreja.

Quando lemos a Bíblia encontramos o relato de vários outros servos de Deus que foram igualmente transformados por Sua graça. Pedro é um deles, de um sujeito impulsivo e de temperamento difícil e inconstante ele foi transformado em um homem sábio, humilde e pronto a pagar qualquer preço por sua fé. O que dizer do ladrão da cruz, de Zaqueu ou do carcereiro convertido? São apenas alguns exemplos de transformação efetuada pela graça de Deus.
E nós, temos sido transformados?


3 – A GRAÇA DE DEUS PRODUZ SERVIÇO, NÃO COMODISMO (10B)
No texto lido percebemos uma terceira ação da graça de Deus que é o serviço cristão. Se alguém podia falar acerca de seu esforço pela propagação do Evangelho, essa pessoa era o apóstolo Paulo. Ele era um homem que trabalhava para Deus de um modo intenso, apaixonado e sincero. Ele se dispôs a pregar o Evangelho assim que foi batizado e curado da cegueira pela qual passou, causando grande espanto e admiração nas pessoas. Está em Atos 9:20-21.

E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, afirmando que este é o Filho de Deus.
Ora, todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que exterminava em Jerusalém os que invocavam o nome de Jesus e para aqui veio precisamente com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes?

Saulo, porém, mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo. Logo os judeus queriam tirar-lhe a vida e os discípulos colocaram-no em um cesto e desceram-no pela muralha (At 9:22-25).

E em Atos 13:1-3 quando lemos acerca do relato dos preparativos para a primeira viagem missionária da Igreja Cristã, vemos que o próprio Deus separou Paulo e Barnabé. Assim acontece na vida de todos que se dispõe nas mãos de Deus para servi-Lo, quanto mais você se oferece para servir a Deus, quanto mais você permite que a graça de Deus opere em sua vida, mais Deus te usa.

Paulo trabalhava incessantemente, trabalhar é servir, e servir não é necessariamente realizar grande obras. Para entendermos isso é bom lermos 2 Co 11:24-28 onde temos o relato de algumas coisas terríveis pelas quais Paulo havia passado por amor a Cristo.

Ao lermos esse testemunho e relato de uma vida dedicada inteiramente ao serviço de Cristo, até a morte, muitas vezes nos sentimos pequeninos perante esse gigante da fé que foi o apóstolo Paulo. No entanto, o próprio apóstolo fala aqui que não era ele, mas a graça de Deus com ele. O mérito é de Cristo, não de Paulo!


CONCLUSÃO
Cada um de nós pode ser usado por Deus da maneira que Ele desejar, no momento e no local que Ele tiver planejado. Para isso precisamos nos dispor em Suas mãos. Um modo prático de fazermos isso é refletindo nas palavras de Paulo, da seguinte forma:

1 – Temos compreendido e crido que a graça de Deus é um presente impagável que Ele nos dá de graça? Se a resposta for positiva isso nos levará a uma atitude de submissão e humildade, em pleno reconhecimento de que nada somos e que Ele é o merecedor de toda honra e glória através de nossas vidas.

2 – Temos compreendido e crido que a graça de Deus é que nos transforma? Nesse caso devemos nos dispor inteiramente para que Ele opere em nós todas as transformações que sejam necessárias, especialmente naquelas áreas que sabemos que são nevrálgicas, doloridas e difíceis de tratar.

3 – Temos compreendido e crido na importância do serviço cristão que só é possível pela graça de Deus? Então devemos agir nesse sentido, não podemos nos acomodar. O que temos feito em atitude de fé e confiança na graça de Deus? Leitura da Bíblia, oração, amor ao próximo, participação aos trabalhos da igreja, santidade, louvor, gratidão... Isso tudo é o mínimo que fazermos para a glorificação daquEle que tudo fez por nós.

Que Deus nos ajude a compreender e viver e crescer firmados em Sua maravilhosa graça.

S.D.G.


Sermão - IPB Porecatu / PR - Culto vespertino 16.08.09

Sermão - 3ª IPB de Barretos / SP - Culto Vespertino 24.08.09

Material de apoio: ABA - A Bíblia Anotada, Editora Mundo Cristão

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