ALIMENTANDO-SE DE CRISTO


Por: Rev. Paulo Sergio da Silva  
20.09.09 Culto Vespertino - IPB de Porecatu / PR 
27.09.09 Culto Vespertino - 3ª IPB de Barretos / SP

TEXTO BÁSICO – JOÃO 6:33,41-69  
“33 Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo.”  
“41 Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu. 42 E diziam: Não é este Jesus, o filho de José? Acaso, não lhe conhecemos o pai e a mãe? Como, pois, agora diz: Desci do céu? 43 Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós. 44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia. 45 Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto, todo aquele que da parte do Pai tem ouvido e aprendido, esse vem a mim. 46 Não que alguém tenha visto o Pai, salvo aquele que vem de Deus; este o tem visto. 47 Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. 48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. 51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. 52 Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a sua própria carne? 53 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. 54 Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55 Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. 56 Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele. 57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá. 58 Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem comer este pão viverá eternamente. 59 Estas coisas disse Jesus, quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. 60 Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? 61 Mas Jesus, sabendo por si mesmo que eles murmuravam a respeito de suas palavras, interpelou-os: Isto vos escandaliza? 62 Que será, pois, se virdes o Filho do Homem subir para o lugar onde primeiro estava? 63 O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida. 64 Contudo, há descrentes entre vós. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair. 65 E prosseguiu: Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido. 66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. 67 Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? 68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; 69 e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus.”  

EXÓRDIO  
O que são os Sacramentos? O teólogo reformado Peter Lombard (1100-1160) chamou um sacramento de “um sinal de uma coisa sagrada”. João Calvino escreveu que um sacramento é “um sinal externo pelo qual o Senhor sela em nossas consciências as promessas de sua boa vontade para conosco, para sustentar a fraqueza da nossa fé; e nós, consequentemente, atestamos nossa piedade para com ele, na presença do Senhor e dos seus anjos, e diante dos homens”. Na igreja católica romana há sete: os dois sacramentos já citados, mais as cerimônias de penitência, confirmação, casamento, ordens sagradas e extrema unção. Como protestantes que somos, não cremos que isso esteja correto; assim como na maioria das igrejas protestantes os sacramentos são dois: o Batismo e a Ceia do Senhor. Mas o que diferem os sacramentos de outras práticas da igreja, tais como a leitura das Escrituras ou as orações? Existem quatro elementos que atestam a autenticidade bíblica dos sacramentos:  
1 – Os sacramentos são ordenanças divinas instituídas pelo próprio Cristo;  
2 – Os sacramentos são ordenanças nas quais elementos materiais são usados como sinais visíveis da benção (invisível) de Deus.  
3 – Os sacramentos são meios de graça para alguém que participa corretamente deles.  
4 – Os sacramentos são selos, certificações e confirmações para nós, da graça que eles significam. (3)

Porém, não cremos que os Sacramentos tenham em si mesmos o poder de transformar a vida de uma pessoa; o pão é um símbolo do corpo e o fruto da vide símbolo do sangue. Se não existe uma aliança real com Deus, este sacramento tão importante torna-se mera religiosidade. Nesses casos aquilo que deveria ser benção, torna-se maldição, 
“...pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.” 1 Coríntios 11.29. 


Nessa mensagem iremos refletir e meditar no segundo sacramento: a Ceia do Senhor.
EXPLICAÇÃO  
O texto lido é marcado pelas declarações expressas de Jesus, que geraram uma série de protestos e perseguições dos judeus, e a apostasia de vários de seus seguidores (66).  

O que lemos aqui então não é a ordenança da prática do canibalismo ou do uso de sangue, o que era severamente proibido pela Lei Vetero-Testamentária (2), mas sim a ordenança ao uso destes símbolos (João 6:63) para enfatizar a necessidade básica que temos de Cristo, de intimidade e de comunhão com Ele, para a nossa sobrevivência espiritual. Jesus usou também a água como símbolo dessa comunhão inefável, santa e preciosa, através da qual temos acesso ao trono de Deus, à salvação e à vida eterna (2). João 4:13,14 
“13 Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; 14 aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.”  

Apesar do peso e do teor de tais declarações, o Senhor Jesus AINDA não estava instituindo o segundo sacramento, a Ceia do Senhor, que foi instituída mais adiante, na mesma noite em que Ele foi traído. Creio que aqui ele estava preparando os seus seguidores justamente para a instituição deste sacramento, ressaltando o seu profundo significado. É nítido que há uma referência ao sacramento, quando comparamos o modo como o Senhor se referiu quando falou do seu corpo e do seu sangue aqui, e conforme lemos em Mateus 26:26-28.  
“26 Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. 27 A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; 28 porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” 
 
Necessitamos mais de Cristo do que de pão e água, porque se estes nos faltassem, o máximo que poderia ocorrer seria uma anemia ou a própria morte física, mas se Cristo nos faltasse estaríamos totalmente fracassados e destinados à morte eterna. 
 
ARGUMENTAÇÃO  
No texto que lemos o Senhor Jesus promete algumas bênçãos para quem dEle se alimenta, e se mantém firme na comunhão com Ele, através da fé e da submissão aos seus mandamentos. Que promessas são essas para aqueles que dEle se alimentam?  

1 – SALVAÇÃO E VIDA ETERNA  
Quem dEle se alimenta, não perecerá mas viverá eternamente (vs. 50,51,54,58)  

Nota-se claramente que nos versículos citados, o Senhor faz várias declarações concernentes à vida eterna, enfatizando as diferentes conseqüências na vida de quem dEle se alimenta em contraste com aqueles que não o fazem: estes receberão a vida eterna, enquanto que aqueles a morte.  

Esta, sem dúvida alguma, é a grande benção que o Senhor veio nos ofertar, a vitória sobre a própria morte que Ele conseguiu com a sua vitória sobre a morte e o inferno. 
 
Obviamente ao dizer “não pereça”, o Senhor não se referia à morte física, mas à morte espiritual e eterna. Ao falar da vida eterna Ele refere-se à salvação, que é o tema central dos Evangelhos.  

Jesus diz que Ele é o pão que desceu do Céu (50). Notemos que esse sermão de Jesus iniciou-se com a declaração dEle no vs. 33. A partir daí os judeus murmuravam dEle, não se conformando com essas palavras, porque não criam nEle (41,42), e Ele faz essa série de declarações expressamente, sem se importar com a incredulidade dos judeus:  
"48 Eu sou o pão da vida. 49 Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram. 50 Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça."  

No vs. 51 o Senhor explica que o pão, nesse contexto é um símbolo da sua carne, a qual sabemos, Ele entregou livremente para ser crucificado por nós no madeiro. 

Notemos aqui também o uso da palavra “mundo”, é bom entender que aqui, como também em João 3:16, o Senhor não está dizendo que toda humanidade perdida será salva, mas a todo aquele que nEle crê e de coração guarda os seus mandamentos. 
 
Os judeus continuaram confusos (52), e então o Senhor acrescenta o símbolo do seu sangue (53-55), mostrando que sem Ele não temos vida em nós mesmos (53) e mais uma vez enfatizando a vida eterna no vs. 54, acrescentando a promessa da ressurreição.  

Creio que não haverá dor maior, não haverá tormento mais duro do que lembrar-se no inferno das oportunidades perdidas, desprezadas e desperdiçadas, de entregar-se a Cristo e receber a salvação. Quantos cultos e oportunidades de arrependimento tal pessoa desprezou em sua jornada, e lá, naquele lugar de tormentos não haverá meios para resolver tal questão.  

Alimentar-se de Cristo é necessidade básica daquele que crê, que almeja ir ao Céu e viver eternamente com Deus. 

Portanto, para alimentar-se de Cristo é necessário crer nEle e render-se confessando humildemente os seus pecados, recebendo assim a salvação. Alimentar-se de Cristo é manter viva uma comunhão íntima com Ele, daí a importância da participação no sacramento da Santa Ceia, não como ritual externo, mas como símbolo daquilo que se vive espiritualmente: alimentando-se do corpo e do sangue de Cristo.

Alimentar-se de Cristo é alimentar-se da Palavra de Deus - João 1:1-3.
Alimentar-se de Cristo é recebê-Lo como Salvador e Senhor - Marcos 16:16. 


2 – VIDA ESPIRITUAL JÁ

Quem dEle se alimenta vive uma vida espiritual verdadeira – vs. 53,56,57.  

Nessa parte o Senhor Jesus faz declarações acerca da vida que Ele dá a todo aquele que dEle se alimenta. Isso é de grande valor para seus seguidores, pois não vivemos apenas na expectativa da vida eterna, mas se nos alimentamos dEle, já vivemos aqui uma vida alegra, boa, feliz, cheia da sua presença, segurança, amor, paz, e todas as sua bênçãos. Enfim, vivemos uma VIDA ESPIRITUAL VERDADEIRA. Não se contente com menos! 


O que é uma vida espiritual verdadeira? Será que trata-se de alguma coisa sobrenatural, acima de uma vida cristã normal? Será que vida espiritual verdadeira é algo tão elevado que não podemos viver assim? NÃO! Vida espiritual verdadeira é o que o Senhor Jesus dá a TODOS que dEle se alimentam. (O exemplo do "super-espiritual"). 


Vs. 53 “Se não comerdes a carne... e não beberdes o sangue... não tendes vida em vós mesmos”. Isso significa que estar presente na igreja não é sinônimo de vida espiritual verdadeira. Muitos entram e saem de suas igrejas da mesma maneira, não se deixam transformar, não se dobram diante do Senhor, não são transformados, por isso não tem vida em si mesmos. Essa ausência de vida manifesta-se notoriamente, pois não conseguem permanecer andando na presença de Deus e acabam desviando-se do Caminho da verdade, que é Cristo. 

Mas nos vs. 56 e 57, há uma promessa maravilhosa para todos que se alimentam de Cristo: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e Eu, nele.” Atenção: isso não é ser perfeito, mas depender dEle, de sua graça, e ser transformado de glória em glória.  Isso é ser verdadeiramente espiritual.


Não deixemos que a frustração nos enfraqueça, mas creia na graça transformadora de Cristo, alimente-se dEle e assim você estará sendo algo desta promessa: você permanecerá em Cristo, e Cristo em sua existência, em sua vida. Não se contente com nada menos que isso, é necessário que vivamos esse tipo de vida. Isso é depender, isso é viver por Cristo. 

Esse é o tipo de vida abundante a que Cristo se refere em João 10:10.


É isso que nos diz o vs. 57 “por mim viverá”, não é por nossas próprias forças, mas pelo poder e pela graça de Cristo que vivemos uma vida espiritual verdadeira.  

CONCLUSÃO  
Vs. 60 - consideraram o discurso de Cristo como um "duro discurso";
Vs. 64 - Jesus lhes disse que haviam "descrentes";
Vs. 66 - muitos o abandonaram e já não queriam andar com Ele;
Vs. 67 - Jesus pergunta aos seus discípulos: "E vós outros?";
Vs. 68 - Pedro respondeu... Que seja essa a nossa resposta...


A pergunta de Jesus, e a declaração de Pedro nos fazem pensar bastante:  
“66 À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com ele. 67 Então, perguntou Jesus aos doze: Porventura, quereis também vós outros retirar-vos? 68 Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; 69 e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus.”  

Alimentar-se de Cristo é não ter para onde ir, exceto para os seus braços de amor. Alimentar-se de Cristo é vida de comunhão íntima com Ele. Quem assim vive há de manifestar a fé e o temor de Deus no viver diário, nas palavras e nas ações.  
Alimentar-se de Cristo não é viver nas nuvens, mas viver a vida espiritual verdadeira. Alimentar-se de Cristo é ter a promessa da vida eterna.  
Alimentar-se de Cristo é nascer de novo.
Alimentar-se de Cristo é viver uma vida espiritual abundante.  

 
Alimente-se de Cristo!!! 
 
S.D.G.  

Material de apoio: (1) A Bíblia Anotada (2) Bíblia de Estudo de Genebra (3) Monergismo (www.monergismo.com/textos/sacramentos/sacramentos_boice.pdf).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

OS DEGRAUS DO CRESCIMENTO ESPIRITUAL

Coragem de camundongo

Assumir Uma Posição Diante de Deus