QUANTO A RECEBER ADMOESTAÇÃO

Por: A.W.Tozer (1897-1963)
 

"Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar" Eclesiastes 4:13. 

Uma breve e singular passagem do Livro do Eclesiastes fala de um "rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar". Não é difícil entender por que um rei idoso, especialmente se fosse estulto, acharia que estava acima de toda admoestação. Depois de ter dado ordens durante anos, facilmente poderia construir uma psicologia autoconfiante que simplesmente não poderia agasalhar a noção de que deveria receber conselho de outrem. Por muito tempo a sua palavra fora lei, e, para ele, certo se tornara sinônimo da sua vontade e errado viera a significar tudo que contrariasse os seus desejos. Logo, a idéia de que houvesse alguém bastante sábio ou bas­tante bom para repreendê-lo não chegaria a entrar em sua mente. Se fosse um rei insensato, deixar-se-ia apanhar nesse tipo de rede, e se fosse um rei velho, daria à rede tempo suficiente para o prender tão fortemente que ele não poderia rompê-la, e tempo suficiente para acostumar-se tanto a ela que não mais estaria ciente da sua existência.

Independentemente do processo moral pelo qual chegou à sua condição empedernida, o sino já dobrara para ele. Em todas as par­ticularidades era um homem perdido. Seu ressequido e velho corpo ainda podia aguentar-se para provê-lo de um túmulo móvel para abrigar uma alma já morta. A esperança partira, havia muito tempo. Deus o deixara entregue ao seu próprio convencimento fatal. E logo morreria fisicamente, também, e morreria como morre um tolo.

Um estado de ânimo que rejeita a admoestação caracterizou Is­rael em vários períodos da sua história, e estes períodos foram seguidos invariavelmente pelo julgamento. Quando Cristo veio para os judeus, achou-os transbordantes daquela arrogante autoconfiança que não se dispõe a aceitar repreensão. "Nosso pai é Abraão" (João 8:39), disseram friamente quando Ele lhes falou dos pecados deles e da sua necessidade de salvação. As pessoas comuns O ouviam e se ar­rependiam, mas os sacerdotes tinham mantido o domínio tempo de­mais para se disporem a renunciar à sua posição privilegiada. Como o velho rei, tinham-se acostumado a estar certos o tempo todo. Repreende-los era insultá-los. Estavam acima da censura.

As Igrejas e as organizações cristãs têm mostrado uma tendên­cia para cair no mesmo erro que destruiu Israel: incapacidade para receber admoestação. Depois de um período de crescimento e de labor vitorioso vem a mortal psicologia da autogratulação. O próprio sucesso torna-se a causa do fracasso posterior. Os líderes passam a aceitar-se como os escolhidos de Deus. São objetos especiais do favor divino; o sucesso deles é prova suficiente de que é assim. Portanto, eles têm que estar certos, e quem quer que tente chamá-los a contas é imediatamente proscrito como um intrometido desauto­rizado que devia se vergonha de ousar censurar os que são melhores do que ele.

Se alguém imagina que estamos meramente jogando com as pa­lavras, que aborde ao acaso algum líder religioso e chame a atenção dele para as fraquezas e pecados presentes em sua organização. Com toda a certeza, o tal topará com bruscas negativas e, se se atrever a persistir, será confrontado com relatórios e estatísticas para provar que está absolutamente errado e completamente fora de ordem. "Nosso pai é Abraão" será a carga da defesa. E quem ousaria achar falta na semente de Abraão?

Os que já entraram no estado em que não podem mais receber admoestação, não é provável que tirem proveito desta advertência. Depois que um homem caiu no precipício não há muito que você possa fazer por ele; mas podemos colocar sinais ao longo do caminho para impedir que o próprio viajante caia. Eis alguns:

1. Não defenda a sua Igreja ou a sua organização contra a crítica. Se a crítica é falsa, não pode causar dano. Se é verdadeira, você tem que ouvi-la e fazer alguma coisa a respeito dela.

2. Preocupe-se, não com o que você tem realizado, mas com o que poderia ter realizado se seguisse o Senhor completamente. É melhor dizer (e sentir): "Somos servos inúteis, porque fizemos ape­nas o que devíamos fazer" (Lucas 17:10).

3. Quando censurado, não preste atenção na fonte. Não inda­gue se é um amigo ou um inimigo que o repreende. Frequentemente um inimigo é-lhe de maior valia do que um amigo, porque aquele não é influenciado pela simpatia.

4. Mantenha o coração aberto para a correção dada pelo Se­nhor e esteja preparado para receber dEle o castigo, sem se preocupar com quem segura o açoite. Os grandes santos aprenderam todos a levar surra com classe — e esta pode ser uma razão por que foram grandes santos.

Tozer, A. W. O Melhor de A. W. Tozer. Seleção predileta dos livros de um profeta de hoje. Vol. 7 – Série A.W.Tozer, 1ª edição 1984. Ed.Mundo Cristão, p.107.


Direito de Pensar.

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