EVANGELIZAÇÃO NO AMBIENTE DE TRABALHO


Por: Rev. Paulo Sergio da Silva
IPB de Praia Grande / SP
EBD 29.09.13

 
"E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo Ele as multidões, compadeceu-Se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, Se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a Sua seara." Mateus 9:35-38.

Nos dias atuais, discute-se muito sobre qual é o melhor método ou estratégia para uma evangelização eficiente. Considero a reflexão saudável, porém, geralmente ela incorre em erro, porque tenta sair do básico, do essencial em busca de novas metodologias. Nada contra elas, mas quando pensamos que o nosso método é uma espécie de panaceia missionária, enganamos e somos enganados. Obs.: panaceia: pretenso remédio universal para todos os males físicos e morais (Dic.Priberam).

Eu penso que nós não devemos abrir mão dos princípios e exemplos bíblicos no tocante a evangelização, principalmente, não podemos deixar de olhar para Jesus e para Sua forma de alcançar os pecadores com o Evangelho. No texto em questão, escrito pelo evangelista Mateus, percebemos detalhes importantes do estilo de evangelização de Jesus.

COMPAIXÃO

Primeiro, Ele estava baseado na compaixão. Ao ver uma pessoa ou milhares delas, Jesus tinha grande compaixão. Compaixão não significa somente ter pena, dor, mas principalmente misericórdia e amor pelo sofrimento alheio, ao ponto de agir em seu favor. Jesus via as pessoas como ovelhas que não tem pastor. Uma ovelha sem pastor está em grande perigo: cair num buraco, ser comida de lobos vorazes ou furtado de sua família e de seu dono. Uma pessoa sem pastor, sem alguém para lhe mostrar o caminho de Deus, corre risco de morte, morte eterna.

Temos que olhar para cada pessoa que temos contato como alguém que precisa de orientação espiritual. Você é o pastor do seu amigo, do seu vizinho, do seu colega de trabalho, daquele que Deus colocou no seu caminho. Sem essa compaixão, sem esse amor de Deus, não teremos iniciativas abençoadoras em direção as pessoas. O Pastor Marcos Alexandre, da Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília contou uma história interessante que aconteceu na África do Sul com seu professor.

Houve um grande congresso de evangelização e esse professor estava presente. Os participantes do congresso, de várias partes do mundo, todo dia tomavam o táxi do hotel, onde estavam hospedados para o lugar das palestras. Um dia esse professor entrou no táxi e ao perceber que o motorista não era evangélico, mas sim um muçulmano, ele fez uma pergunta àquele homem:

- Você tem levado todo dia muita gente para o congresso de evangelização?
- Sim, foi sua resposta.
- Quantos desses congressistas falaram para você acerca de Jesus, o Filho de Deus?
- Você é primeiro, respondeu o homem mais uma vez.

Isso acontece com frequência no ambiente de trabalho, quando os que deviam falar se calam e não falam de Deus às pessoas, ou sequer se identificam como crentes; são os chamados “agentes secretos”. Alguns chegam ao ponto de dar mau testemunho (modo de falar, conversar, palavrões, piadas sujas, fofocas, etc.) para serem aceitos como amigos.

Podemos ter o último método, participar de inúmeros congressos, porém, se não tivermos compaixão, amor pelas pessoas, fruto do amor de Deus em nós, não seremos o próximo daquele que está ao nosso lado e que precisa de nós para o instruirmos no caminho da salvação em Cristo. Lembremos da parábola do bom samaritano, contada por Jesus: quem mais conhecia a teologia e a religião? O sacerdote e o levita. Mas, quem se compadeceu do homem caído no chão? O samaritano.

É bom ter conhecimento da teologia e da religião, mas só isso não nos fará bons evangelistas. Precisamos também de um coração compassivo, misericordioso e cheio de amor por aqueles que ainda não conhecem Jesus. Se nós presbiterianos, aliarmos a nossa boa teologia com compaixão, ninguém nos segura em missões.

Buscar e salvar o perdido, a pessoa sem Cristo era prioridade para Jesus. Será que é para você também? Será que olhamos para as pessoas como mais um na multidão ou como ovelhas que não tem pastor? Como uma pessoa que precisa que alguém lhe mostremos o caminho para Deus assim como você já encontrou? Quantas pessoas já ouviram do plano salvador de Deus em Cristo Jesus através da sua vida este ano? Se Jesus voltasse hoje, quantas pessoas estariam no Céu, fruto do trabalho evangelístico movido por sua compaixão e amor pelos perdidos? Reflita sobre isso. Ore, pedindo compaixão a Deus.

Em nosso ambiente de trabalho nem sempre temos oportunidade de falar da salvação. Muitas vezes isso é até inviável. No entanto não podemos nos esconder atrás das “desculpas” de que “lá não é lugar disso”, “não é Igreja”, “não posso me queimar”, etc. Na verdade precisamos buscar ter o sentimento de compaixão que vemos em Jesus, e ser sábios aproveitando as oportunidades (Cl 4:5). Creio firmemente que se buscarmos em Deus, seremos tomados de compaixão pelos perdidos, de modo que Deus nos dará as oportunidades de falarmos de Seu amor por eles. Conheço um irmão que trabalhou num escritório há muitos anos atrás, por volta de 1983. Após sua conversão passou a ser zombado o tempo todo pelo fato de ser crente. Mas Deus o ajudou a sentir essa compaixão por seus amigos, apesar de ser tido muitas vezes como o “bobo da corte”. Havia momentos em que ficava nervoso, triste, incomodado, mal mesmo. No entanto logo que pensava no Dia do Juízo, sentia compaixão por eles, por saber que seriam todos lançados no inferno, caso não se convertessem. Esse sentimento vem de Deus, não é natural a nós, mas nos é dado pelo Espírito Santo (Rm 5:5). No entanto, precisamos buscar em Deus o despertar da compaixão. Do contrário seremos crentes insensíveis, duros, frios, e falsos ou incrédulos. Falsos porque sabemos que o que os aguarda é a coisa mais terrível que existe: a condenação eterna. Então se sabemos disso e não os alertamos, estamos sendo os mais falsos amigos que existem. Incrédulos porque o nosso silêncio e apatia pode ser fruto da nossa falta de fé na Palavra de Deus. O primeiro sinal de que temos (ou que queremos ter) compaixão, é a oração, nosso próximo ponto.

ORAÇÃO

O estilo de evangelização de Jesus estava baseado na compaixão, e em segundo lugar na oração. Jesus vendo o grande desafio da obra missionária, muita gente para ser evangelizada e poucas pessoas dispostas a fazê-la, Se dirigiu aos Seus discípulos pedindo para que orassem a Deus, rogando mais trabalhadores para Sua seara. É interessante, que logo a seguir ele chamou os doze Apóstolos e os enviou em missão. Somos a resposta de Deus para a oração por mais obreiros.

"Pastor, o senhor está me dizendo que se eu orar por mais obreiros sou parte importante da resposta de Deus?" Sim! Ore por mais obreiros e seja parceiro de Deus no Seu grande projeto de salvação para a humanidade. Ore por mais obreiros, ore pelos obreiros que já estão nos campos, ore por envolvimento da Igreja com missões, ore pela conversão dos pecadores, ore por mais recursos financeiros para missões, ore para que o poder do Espírito Santo atue na sua vida, na vida dos missionários e na vida das pessoas que ouvirão sua pregação.

Infelizmente, a oração tem sido muito desprezada na vida de muitos crentes, individualmente e na vida de suas Igreja como um todo, mesmo Jesus dando uma grande importância para ela. Jesus vivia em constante oração, ensinou sobre oração, chamou a atenção para a perseverança na oração através de várias parábolas; todavia, não estamos prestando a devida atenção a ela como Jesus gostaria. Temos que nos arrepender imediatamente e pedir graça a Deus para desenvolvermos uma vida de oração, sobretudo, uma vida de oração para que a obra de Deus avance no mundo.

Qual tem sido o seu investimento em oração? Oração a sós com Deus. Oração com a família, com outros irmãos e com a Igreja? Você tem orado regularmente pelos missionários, por mais obreiros, por crescimento espiritual e numérico da Igreja. Tem orado a Deus com um coração humilde e obediente para que quando Deus quiser usar a sua vida, Ele não fique triste com sua relutância? Um dos tempos que mais orei foi quando minha esposa foi ao Brasil para tratamento médico. Fiquei mais de 50 dias com os filhos e a saudade da amada. Levantava de madrugada, orava por ela, por mim, por Guiné-Bissau, pelos missionários, ou seja, orava e dormia, dormia e orava. Hoje oro a Deus para continuar sempre orando...

A compaixão gera oração; e quando intercedemos com compaixão, nossas orações se tornam cada vez mais inflamadas. Que bom, Deus está nesse negócio! Orar é falar com Deus, é ir pelo novo e vivo caminho que Cristo nos consagrou através de Seu sacrifício (Hb 10:20). Como num efeito dominó, a compaixão gera oração, mas não aquelas orações sem esperança, sem objetivo, sem fé... Se temos compaixão oraremos com fervor, com sentimento, com o coração.

Naquele contexto que aquele irmão viveu, ele se propôs a orar por seus amigos pedindo a Deus que lhe concedesse oportunidades para lhes falar do amor de Deus. Pedia que Deus lhes tocasse os corações, e que eles entendessem a mensagem do Evangelho e se arrependessem de seus pecados. Num sábado de carnaval, quando ele ia para o trabalho caminhando, por volta das 06h00 da manhã, como o caminho estava vazio, começou a orar baixinho, não só em pensamento. O sol nascia e ele caminhava orando por meus amigos, contemplando o nascer do sol, que era muito lindo! Mas ao olhar fixamente para o sol, a sua luz logo ofuscou sua visão e ele teve que desviar o olhar. Logo lhe veio à mente que aquela luz tão intensa tinha a sua origem no fogo; então ele disse para Deus: “Senhor, não permita que meus amigos sejam lançados no fogo do inferno, salve eles, oh Pai. Toca em seus corações.” As lágrimas rolavam pelo seu rosto, e ele sentia algo muito forte dentro do peito: um certo tipo de dor, uma dor espiritual que era gerada pela compaixão, pelo amor. Mas ele estranhava que esse amor que não era seu; ele gostava dos meus amigos, mas não era tanto assim. Esse amor que ele sentiu naquele momento era um tipo de amor diferente, especial, que Deus compartilhava com ele naquele exato momento. O amor gerou a compaixão, que gerou aquele momento de oração. Parece que Deus estava fazendo algo novo naquele momento, parece que Ele queria ensinar algo. Aquele irmão continuou andando e orando, imaginando o terrível dia em que o Senhor julgará a Terra, e aquele sentimento no peito foi aumentando, aumentando cada vez mais, até que se tornou insuportável, era uma dor terrível no peito, na alma, no coração. Mas subitamente aquela dor transformou-se em um sentimento de paz e gozo espiritual indescritível. Ele sentiu a presença do Senhor bem ao seu lado, andando com ele, lhe confortando, lhe dando Sua paz. Esse sentimento de gozo foi aumentando e a dor foi embora, ficando em seu lugar uma paz maravilhosa. Quando entrou no escritório viu seus amigos e lhes deu “bom dia” com muita esperança de que Deus faria uma obra na vida deles. Ele sabia que as oportunidades surgiriam, e que ainda iria lhes falar do amor de Deus, ainda iria pregar a salvação para eles.

PREGAÇÃO

O estilo de evangelização de Jesus estava baseado na compaixão, na oração, e em terceiro lugar na pregação. Jesus não esperava as pessoas virem até Ele, pelo contrário, Ele ia onde elas estavam: nas casas, nas ruas, nas cidades, nos campos, nas sinagogas, etc. Ele ia até as pessoas para pregar e ensinar sobre as realidades do Reino de Deus através de parábolas, ditos e histórias. Jesus pregava e ensinava com tanto amor e autoridade que as multidões ficavam maravilhadas com Seu ensino, pois falavam de realidades que eles entendiam e que tocavam os seus corações angustiados.

Sua pregação e ensino traziam esperança para os pecadores, porque era uma mensagem que os convidava para o arrependimento e a fé nEle como solução para os seus fardos pesados e sobrecarregados, ou seja, seus pecados que atormentavam suas vidas. Jesus anunciava a grande boa nova, de que nEle Deus perdoa o pecador e o reconcilia conSigo mesmo. É claro que mesmo essa boa notícia foi rejeitada por muitos judeus, especialmente pelos fariseus, que se consideravam bons demais para precisarem de perdão e arrependimento.

Enquanto desenvolveu Seu ministério terreno, Jesus não "inventou moda", apenas pregou e ensinou a Palavra de Deus com todo empenho e dedicação. Inclusive, um dos Seus conjuntos de ensinos mais famoso é o chamado "Sermão do Monte", onde gastou tempo ensinando sobre as características dos cidadãos do Reino dos Céus. Após pregar e ensinar às multidões, perto de partir para o Céu, dedicou tempo e atenção para ensinar aos Seus discípulos para que esses continuassem Seus ensinos depois que Ele partisse. Se Jesus gastou a maioria do Seu tempo pregando e ensinando, porque não fazemos o mesmo?

Temos que abrir a nossa boca e falar de Deus; pregar é isso. Claro que na Igreja a pregação é diferente, mas quando falamos do amor de Deus, estamos pregando. No ambiente de trabalho a pregação precisa ser feita com muita sabedoria, e ali Deus nos dá oportunidades especiais que não podem ser desperdiçadas.




 
Este estudo foi baseado no estudo do Rev. Paulo Serafin - “Evangelização do Estilo de Jesus”.
O Rev. Paulo é Missionário Presbiteriano em Guiné Bissau / África.

SDG - A DEUS TODA GLÓRIA!!!

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