Justos e ímpios - contraposições



“A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo. No coração, tem ele a Lei do seu Deus; os seus passos não vacilarão”. 
Salmos 37:30-31.

O Livro dos Salmos contém diversos textos em que se nota claramente uma contraposição constante entre o proceder dos justos e dos ímpios. Obviamente o Senhor quer nos ensinar a viver dentro de um padrão de comportamento que Lhe é agradável e aprazível, e portanto, quer nos orientar nesse sentido. Cabe a nós observarmos o que Ele diz e buscarmos seguir esse padrão de vida e comportamento.

Geralmente, ao lermos o Salmos 37, nos prendemos em textos clássicos, como por exemplo os versículos 4-5, 8, 10, 23-25. Muitas vezes não nos atentamos ao restante dos Salmos, mas uma leitura mais acurada e minuciosa nos revelará quantas riquezas estão aqui contidas, e como essas verdades estão entrelaçadas. Por exemplo, os vs.4-5, se lidos isoladamente, trarão a falsa ideia de que Deus está disposto e pronto (quase que obrigado, conforme a “teoria da prosperidade”) a fazer tudo que o homem quiser. Porém, o versículo 31 nos diz que o justo tem no coração a Lei de Deus, portanto os desejos do seu coração devem ser alinhados com o coração de Deus, aquilo que é revelado na Lei, isto é, na a Bíblia Sagrada. Se o coração não é de acordo com a Lei de Deus, obviamente não é de se esperar que Deus faça algo, ainda que se ore com intensidade. E mais: se ele de fato entrega o seu caminho ao Senhor e confia nEle que o mais Ele o fará (vs.5), certamente seus passos não vacilarão (vs.31).

Três contraposições específicas

Focarei nessa palavra apenas os vs. 30-31, que nos falam ricamente acerca do procedimento do justo e o modo como ele vive e é notado perante crentes e não crentes. Isso é de extrema importância, haja visto que, segundo o Senhor Jesus, nós somos o sal da Terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Como temos influenciado as pessoas em nosso derredor? Sabemos que de todas essas coisas Deus nos pedirá contas um dia (Ec 11:9). Vejamos, portanto quais são essas três contraposições.

1 – O justo é diferenciado no seu modo de falar
“A boca do justo profere a sabedoria, e a sua língua fala o que é justo” (Sl 37:30)

Diferentemente do ímpio, o justo se preocupa com o que sai de sua boca (Mt 15:18-19 onde Jesus alerta dos males que procedem do interior do homem). Um sábio disse que três coisas não voltam jamais: o tempo que passa, as pedras que foram atiradas, e as palavras ditas ao vento. O que tem saído da nossa boca denota se somos sábios ou não (Pv 16:21) sábios de coração e prudentes no falar, isto é, inteligentes e cheios de conhecimento (Pv 15:2). É um modo de falar doce e inteligente, aquela palavra branda e paciente que até desvia o furor em momentos de crise e dificuldades (Pv 15:1). Não há como se negar, que se o nosso coração estiver cheio de paz, falaremos de paz, e não de guerra. Porém, se estiver cheio de ódio... O próprio Senhor Jesus nos alerta que aquilo que a boca profere é o que vai no coração (Lc 6:45). O que tem saído de sua boca? Sabia que por suas palavras Deus te julgará? (Mt 12:36-37).

E o que é “justo”, segundo a Palavra de Deus? Certamente o que é correto, certo, que procede dos preceitos de justiça de Deus, aquilo que está de acordo com a Sua Lei. A boca do justo fala o que é justo, assim como a boca do ímpio profere impiedades (Mt 12:34-35). As nossas palavras revelam quem somos por dentro, assim como o controle do que falar ou não falar, e também como vamos falar, denotam nosso caráter (Tg 1:19).

Fica notória a conexão entre boca e coração, conforme Mt 12:34-35 e Lc 6:45. Por isso que na sequência é falado agora do coração: o justo tem a Lei de Deus no coração (vs.31a). 

2 – O justo tem a Lei de Deus no coração
“No coração, tem ele a Lei do seu Deus” Salmos 37:31a

A Lei de Deus é recebida através da leitura, conhecimento e aprendizado da Bíblia Sagrada. É nas EBDs, cultos, estudos bíblicos e reuniões que ouvimos, discutimos e aprendemos acerca dessa Lei bendita. Mas também em nossa leitura e estudo devocional, onde ela é recebida na mente, intelectualmente. Mas não pode permanecer somente na mente, é necessário que ela entre e permeie o coração também, regendo, motivando, dirigindo e transformando a vida, vontade, pensamentos e decisões. O justo não somente fala, mas vive de um modo que transparece a presença de Deus em seu coração. Isso é notório na vida do crente fiel e fervoroso, que se entrega totalmente ao Senhor. Quantos e quantos filhos de Deus não desfrutam dessas veredas?

O coração pode ser entendido na Bíblia também como alma e espírito. É o centro de nossa vida, onde desejos, vontades e decisões fluem, e também onde são freados e controlados. Se o seu coração for comparado à sala de comando de uma nave, ou embarcação, quem estaria assentado na poltrona do Capitão? Quem está no comando de sua vida? Como você toma suas decisões? O justo tem Deus no comando de sua vida, o seu barquinho não está à deriva nem perdido no mar, não vai fracassar nem afundar, porque o Senhor o guia seus passos. A Lei de Deus é o que rege e orienta o justo.

Como ter a Palavra no coração?

Esse é um exercício constante na vida do crente, visto que há tantas coisas que podem nos tirar do foco da Palavra, levando-nos a observar outras coisas e não aquilo que Deus quer. A correria do dia a dia, as pressões de todos os lados, o mundo hostil em que vivemos, as tentações do diabo e da nossa carne, os amigos e parentes, o clamor da sociedade decaída, os costumes contrários, enfim, há uma gama de coisas que podem nos “roubar” a Palavra (Pv 12:25; Mt 13:18-23 onde o inimigo vem e rouba a Palavra). A Palavra não acontece por acontecer em nossa vida, não é de modo “automático” que o justo tem a Lei de Deus no coração, exige entrega, dedicação e força de vontade. É muito fácil nos esquecermos das recomendações e orientações que Deus deixou para nós. É necessário esforço de nossa parte para não perder, esquecendo o que nos foi confiado, ou dando à Palavra menor grau de importância do que de fato ela tem. Por isso o salmista reconhecia a necessidade de praticar o ato de guardar a Palavra de Deus no coração (Salmos 119:9-16). “Guardo no coração as Tuas Palavras, para não pecar contra Ti. ” Salmos 119:11.

É em oração e fé que buscamos e conseguimos obter a bênção de ler, entender, conhecer, memorizar e praticar a Palavra de Deus.

3 – O justo não vacilará
“[...] os seus passos não vacilarão” Salmos 37:31b

Finalmente, o Salmos 37:31 afirma que o justo é firme em seus passos, isto é, em sua caminhada, sua vida. O que isso significa? Obviamente não se trata de perfeição, ou isenção de momentos difíceis e complicações que possam surgir, mas trata-se do modo como lidamos com essas situações e momentos difíceis. O justo não é perfeito, mas enfrenta suas batalhas firmado em Deus. O verbo vacilar significa literalmente: balançar de um lado para o outro, oscilar por não ter firmeza, cambalear (Google dicionários). Nesse sentido esse é um alvo de vida que o justo segue e persegue firmemente, e para isso, há de buscar forças em Deus para que não vacile. Se já houver vacilado, quererá não vacilar mais, porque a Lei de Deus está em seu coração operando mudanças e transformações positivas. 

•    O justo pode até passar por lutas terríveis, é verdade, mas não vacila em seus passos porque Deus está com ele em toda e qualquer situação – Salmos 23:4 onde o Senhor fala do vale da sombra da morte. 
•    O justo pode até tropeçar e cair, mas não ficará prostrado, pois o Senhor o levanta e firma os seus passos – Salmos 37:23-24 onde está claro que o justo pode até cair, mas o diferencial é que o Senhor o levanta. 
•    O justo não ficará para sempre cambaleando em suas dores e problemas, pois o Senhor o ajuda a firmar seus joelhos e não manquejar mais – Hb 12:12-13 onde o Senhor diz claramente que não deseja que aquele que manca se extravie, mas que seja curado.
•    O justo não vacila em seu ânimo, não e de ânimo dobre (Tg 4:8). O ânimo dobre, isto é, duplo ânimo, dupla vontade, é o sinal da inconstância: numa hora bem, noutra mal; num dia firme, noutro fraco; num momento querendo servir a Deus, noutro momento desprezando a casa de Deus (o crente iô-iô). Essa vacilação não é própria do justo, pois o Senhor disse que “o justo não vacilará”. O sentido não é que ele jamais terá fraquezas ou dúvidas, mas que não viverá para sempre em atitude de fraqueza e dúvida. Ele superará essas dificuldades firmado em Deus.

Conclusão

O Salmos 37 traz diversas contraposições entre os justos e os ímpios. Nessa mensagem focamos apenas os vs. 30-31 onde vimos que o justo fala, age e vive diferente do ímpio, porque Deus está no centro de sua vida, e em seu coração está a Lei de Deus. Essa é a causa de sua vida transformada, seu falar diferenciado, e sua firmeza de caráter.

Deus está forjando e modelando nosso caráter, nossa integridade e maturidade espiritual. Busquemos em Deus as forças necessárias para perseverarmos nesse caminho santo e glorioso, onde só temos a ganhar, e onde o nome do nosso Deus é sempre exaltado.

Soli Deo Gloria!!!

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